quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Angels in America

Angels in America é uma peça de teatro escrita por Tony Kushner que virou minissérie para a HBO com Al Pacino, Meryl Streep, Emma Thompson, e vários outros deste naipe.É um soco no estômago porque nos leva de volta aos anos 80 quando a Aids começava a fazer suas vítimas e o governo Reagan não fez absolutamente nada.

O diálogo abaixo é logo no começo do filme, e o rabino em questão é interpretado pela Meryl Streep (gênio total):

Louis: Rabino, eu estou com medo dos crimes que eu possa cometer.
Rabbi. Por favor senhor. Eu sou um rabino velho e doente que ainda tem que enfrentar uma longa viagem para casa no Bronx. Se você quiser confessar é melhor você achar um padre.
Louis: Mas eu não sou católico. Sou judeu.
Rabbi: Que azar bonequinho! Os católicos acreditam em perdão. Os judeus acreditam em culpa.

Na peça Angels in America, o teatro transgressor de Kushner desconstrói a imagem de sociedade perfeita da nação supostamente tida como a mais democrática e liberal do mundo. A tão-exaltada liberdade do indivíduo, por exemplo, cessa a partir do momento que o diferente e o estranho ameaça “manchar” as fronteiras imaginárias desta pólis democrática, como podemos observar na atitude do antagonista Roy Cohn ao dizer que:

A pior coisa de ficar doente na América...é que você é chutado para fora da parada. Americanos não têm nenhuma serventia como doentes. Olhe para o Reagan: Ele é tão saudável. Ele nem parece humano...ele leva um tiro no peito e dois dias depois já está andando de cavalo em seu rancho. Aí eu pergunto quem consegue isso? Esta é a América. Um país que não tem lugar para o enfermo. (KUSHNER, 1992: 192)

Na primeira parte, o universo das personagens é baseado em manipulações e distorções de leis, “contrate um advogado, processe alguém, faz bem para a alma” (221) aconselha o poderoso advogado Roy Cohn; relacionamentos entram em colapso; a AIDS surge ainda como fator desestabilizador e as personagens ficam renegadas ao abandono e solidão. Todo este caos é simbolizado pela destruição física causada pelo surgimento do Anjo no final de Millenium Approaches (1ª parte).

Em Perestroika (2ª parte), tem-se o trabalho de reconstrução de uma nova comunidade, inserida em uma nova mentalidade; uma comunidade que tenta unir laços onde aparentemente não teriam como serem unificados devido às suas diferenças. Uma fantasia gay, como o próprio título da peça já diz, reunindo no Epílogo um grupo multirracial – os membros desta nova sociedade.

Para ver, rever, refletir, comentar e recomendar. Beijos!!

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