quarta-feira, 28 de outubro de 2009

MILK - A voz da Igualdade


(Resenha de Pablo Villaça)

Dirigido por Gus Van Sant. Com: Sean Penn, James Franco, Josh Brolin, Emile Hirsch, Diego Luna, Alison Pill, Victor Garber, Denis O’Hare, Joseph Cross.

Envergonhados e humilhados, eles são conduzidos para fora do bar em direção aos camburões da polícia. Uns tentam cobrir o rosto, ocultando suas identidades das câmeras de televisão que parecem determinadas a expor sua “depravação”, ao passo que outros desafiadoramente erguem o queixo enquanto caminham, certos de que não fizeram nada errado e, assim, não têm motivo para temer o julgamento alheio. O crime que levou a polícia a conduzi-los à delegacia? A homossexualidade.
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É assim que Milk – A Voz da Igualdade tem início: com terríveis imagens de arquivo que retratam seres humanos sendo discriminados por forças da Lei em função de suas orientações sexuais – e a natureza do preto-e-branco daquelas cenas faz com que instintivamente interpretemos aqueles eventos como algo saído de um passado vergonhoso, como o período da escravidão ou do pré-sufrágio feminino. Algo que, infelizmente, não poderia estar mais errado.
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Apresentando-nos em seguida ao seu protagonista e herói, o Harvey Milk (Penn) que dá título à história, o filme introduz o sujeito como um homem de 40 anos de idade que, frustrado por não ter feito nada de relevante na vida e por viver a mentira de não poder assumir quem realmente é em público, decide se mudar para a Califórnia ao lado do namorado, o jovem Scott Smith (Franco). Em San Francisco, o casal abre uma loja de revelação fotográfica na Rua Castro, que logo se tornaria o centro nervoso da batalha pelos direitos homossexuais no Estado. Gradualmente assumindo o posto de líder da comunidade gay, Milk eventualmente decide se candidatar ao posto de “supervisor” da cidade (equivalente ao cargo de vereador, no Brasil), enfrentando três eleições antes de finalmente conseguir se tornar o primeiro homossexual assumido a ser eleito para um cargo público nos Estados Unidos.
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Talvez a decisão mais acertada de Gus Van Sant, no que diz respeito ao elenco, tenha sido usar apenas imagens de arquivo para retratar a desprezível Anita Bryant em vez de escalar uma atriz para interpretá-la: usando a religião como arma em prol da intolerância, Bryant divide, com vários supostos “pastores”, a convicção de falar por um Deus cruel e preconceituoso que, convenientemente, viabiliza o crescimento da fama e da fortuna de seus mensageiros através dos discursos recheados de veneno que condenam a diferença e a individualidade. Aliás, nunca deixa de me espantar o fato de serem sempre aqueles que alegam representar os interesses divinos que buscam mobilizar os fiéis em cruzadas persecutórias contra seus semelhantes – uma mensagem que considero fundamentalmente contrária a qualquer conceito minimamente razoável de Deus enquanto entidade superior, sábia e defensora do Amor.
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Milk é um filme extremamente importante do ponto de vista político e humano ao expor a manutenção de pontos-de-vista e iniciativas absolutamente anacrônicos e inaceitáveis no século 21. Se não formos capazes de compreender que o Amor, em todas as suas formas e manifestações, é algo a ser cultivado e valorizado em um mundo normalmente tomado pela dor e pela violência, não creio que o futuro seja algo viável para a Humanidade. E não preciso fingir falar em nome de Deus para afirmar isto com toda a convicção.
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(chorei pencas!! beijos!!)

Um comentário:

gera - man in the box disse...

coincidência. vi milk faz 2 semanas (tenho um pouco d birra do sean e personagens histriônicos) mas achei dúca o filme, a atuação do sean, o elenco, tudo. e chorei umas 2 x. uó