Quantos de nós somos obrigados a viver uma vida dupla? Vários! Explico... Trabalho há quase um ano com um grupo de pessoas. Como em todos os lugares temos mais afinidades com uns do que com outros. Dia desses uma das pessoas com quem tenho mais afinidade me perguntou se eu tinha namorado, respondi que sim. Passados alguns dias, essa mesma pessoa me perguntou se esse namorado tinha nome, respondi que sim, e acabei rebatizando minha namorada. A partir de hoje ela se chama “Pedro”.
Recebo inúmeros convites para happy hour com esta colega de trabalho, que está louca para conhecer o “Pedro” e apresentá-lo ao marido dela. Agora tudo que ela vem contando sobre o marido, vem com a pergunta na seqüência: como é o Pedro nisso, como é o Pedro naquilo, etc.
Essa vida dupla e que não me pertence é irritante, estressante e incômoda, mas assumir que namoro uma mulher neste ambiente está fora de cogitação!
Em meu trabalho anterior todos sabiam sobre tudo em minha vida, das brigas intermináveis com minha namorada, dos ciúmes que ela tinha de tudo e de todos, do fato de não permitir que eu saísse com meus colegas de trabalho, enfim, todos sabiam de tudo, e isso foi extremamente prejudicial na minha relação de chefe com meus subordinados. Hoje em dia não vivo mais essa situação, não sou chefe de ninguém, no entanto percebo no ambiente vários tipos de preconceito, racial, social e sim quanto a "opção" sexual. Isso ficou evidente nas conversas durante este ano que estou aqui neste trabalho. Não há alternativa, senão transformar minha linda, delicada, feminina namorada num “Pedro”.
Dureza é responder as perguntas de minha curiosa interlocutora que sempre quer saber o que fiz no fim de semana. Sigo respondendo a tudo, sem esquecer de transformar minha amada no “Pedro”, sem esquecer de dizer ele ao invés de ela.
Situação complicada e desagradável, pois sei que aos olhos dela, assim como dos outros colegas de trabalho terei minha competência diminuída diante da real "opção" sexual.
Sei de inúmeras pessoas que vivenciam a mesma situação diariamente, e que passar por isso não é uma opção. Todos gostariam de ter a liberdade de nos assumirmos, mas a questão é bem mais ampla. Não é o fato de sair ou não do armário. Eu particularmente não tenho nenhum problema com a minha sexualidade. Os outros é que continuam tendo.Hoje sei que todos que trabalham comigo não tem dúvidas sobre meu potencial, minha competência, mas se soubesse de minha orientação tudo seria diferente.
Para alguns pode parecer ridículo em 2009 achar que é necessário esconder sua opção no trabalho, em família, ou onde quer que seja, mas quando dependemos do trabalho para sobreviver, e principalmente quando queremos mantê-lo este é um subterfúgio mais que necessário. Basta ver o que está acontecendo com os sargentos do exército recentemente assumidos. Sem levantar o mérito da questão, se tivessem continuado a viver suas vidas duplas, ou dentro do armário nada disso estaria acontecendo.
Deve ser muito fácil e confortável, sair do armário para o mundo dando loas a liberdade de expressão, quando não se depende financeiramente de um emprego, para sustentar a si e a família. Sem tecer críticas, mas, a nova geração abre portas ao ser menos discriminatória e se mostrar ao mundo, no entanto quando estiverem em idade produtiva e dentro do mercado de trabalho certamente esta postura mudará.A conclusão disso tudo é que ninguém precisa saber o que fazemos entre quatro paredes, porque assim pelo menos mantemos o respeito!
Desculpem a ausência, essa semana na faculdade tá osso!!
Beijos!!
2 comentários:
"A conclusão disso tudo é que ninguém precisa saber o que fazemos entre quatro paredes, porque assim pelo menos mantemos o respeito!". Achei super interessante o final do texto. É muito comum a desvalorização pessoal quando se trata de opção sexual diferente ou qualquer outra situação onde possa surgir algum preconceito. Bom post!
entendo, mas acho q embarcar na fantasia tbm não é uma boa saída / no caso do outing sua colega de trabalh pode se sentir traída, podendo te prejudicar mto mais / o segredo é nao falar do que nao se quer, posi, como vc disse, não é assunto para geral
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